15 de Junho – Dia Mundial Para a Consciencialização do Abuso Contra as Pessoas Idosas
Assinala-se hoje o Dia Mundial Para a Consciencialização do Abuso Contra as Pessoas Idosas.
A OMS (2017) estima que, por todo o mundo, 1 em cada 6 pessoas idosas foram vítimas algum tipo de violência no último ano. Trata-se de um fenómeno social emergente à escala global, que afeta todas as sociedades e que está imune em relação às classes sociais, culturas, credos, etnias, forças políticas, etc., estando presente nos mais diversos contextos, desde a esfera familiar, até aos serviços de saúde e a instituições de apoio às pessoas mais velhas, como centros de dia ou lares residenciais (Glendenning, 1999; Perel-Levin, 2008). Isto significa que qualquer pessoa pode ser afetada pelo mesmo, bastando para isso chegar a uma idade mais avançada.
O Abuso de Pessoas Idosas pode ser definido como Qualquer ato isolado ou repetido ou a ausência da ação apropriada que ocorre em qualquer relacionamento em que haja uma expectativa de confiança, e que cause dano, ou incómodo a uma pessoa idosa (WHO & INPEA, 2002, p.3); ou como “todo o ato ou omissão cometida contra uma pessoa idosa, no quadro da vida familiar ou institucional e que atenta contra a sua vida, a segurança económica, a integridade física e psíquica, a sua liberdade ou que comprometa, gravemente, o desenvolvimento da sua personalidade” (Conselho da Europa, 2002).
Pode configurar Abuso Físico (utilização não acidental da força física que pode originar ferimentos corporais, dor física ou incapacidade na pessoa idosa – bater, esbofetear, empurrar, arranhar, sob ou sobre medicação, coerção forçada fisicamente, etc.), Abuso Sexual (envolvimento da pessoa idosa em contactos ou exposições de natureza sexual o qual ele não deu consentimento informado, não quer e/ou não compreende o seu significado – falar de forma sexualizada, tocar, violação, sodomia), ser forçado a ouvir ou ver atos sexuais, obrigar a despir-se, etc.), Abuso Emocional ou Psicológico (infligir por meio de estratégias verbais ou não-verbais, angústias, dor ou aflição – ameaças, humilhação, infantilização, intimidação, ignorar, negação de direitos básicos, hostilização, etc.), Abuso Material ou Financeiro (uso ilegal ou inapropriado, por parte de cuidadores e/ou familiares, de bens, fundos ou propriedades da pessoa idosa, para seu ganho pessoal – roubo, uso, venda de propriedades, retirar somas avultadas de dinheiro, convencer para a aquisição de produtos, criação de contas bancárias conjuntas, apropriação da reforma ou outros apoios sociais, etc.), Abandono (quem tinha a custódia física ou a responsabilidade de zelar pela pessoa idosa deixa-a “entregue a si mesma”, desaparece, ou deixa-o numa instituição, hospital ou mesmo na rua), Negligência (recusa, omissão ou ineficácia na prestação de cuidados / necessidades básicas, obrigações ou deveres à pessoa idosas – falha na provisão adequada das necessidades instrumentais ou básicas da vida diária, omissão de medidas de prevenção e segurança, recusa de suporte material e emocional, falha na prestação dos cuidados de saúde/intervenção médica), e a Auto-negligência (a própria pessoa idosa comete atos que atentam contra a sua própria saúde ou segurança sem se dar conta, ou seja, de forma inconsciente e involuntária – isolar-se, vestir-se inadequadamente face às condições ambientais, etc.) (NCEA, 1998).
Quando ficamos sensíveis para esta temática começamos a dar conta, aos poucos e poucos, que não é algo assim tão distante de nós. Pelo contrário, apercebemo-nos que assustadoramente pode estar a acontecer na porta ao lado, dentro da nossa família alargada, em contextos onde trabalhamos ou onde nos movemos, e aí inicia-se a interrogação: o que posso eu fazer para ajudar as vítimas? E para inibir os perpetradores? O que se pode fazer para prevenir?
Tal como noutras problemáticas, não há uma receita mágica para responder a estas questões. E embora a legislação seja quase inexistente nesta matéria (ou contrário do que acontece para os animais, por exemplo), o facto é que existem entidades que podem dar algum apoio (ainda que insipiente), como é o caso da APAV, da GNR – NIAVE, da PSP – Equipas de Proximidade e de Apoio à Vítima (EPAV), Linha do Cidadão Idoso (800203531), Linha Nacional de Emergência Social (144), gabinetes de Ação Social ou mesmo Comissões de Proteção à Pessoa Idosas que começam a surgir em algumas Câmaras Municipais do nosso território, etc.
Por outro lado, quando temos a oportunidade de tentar perceber o que está por trás de cada realidade abusiva (e em especial no contexto doméstico, que é onde mais de 90% das pessoas idosas residem), deparamo-nos não raras vezes com uma panóplia de fatores, muitos deles de há anos, que acabam por culminar no abuso. Vemos muitas famílias destruturadas por doenças, pela incompreensão e o não saber lidar com determinados sintomas clínicos psicológicos e comportamentais, por abusos de substâncias, por quadros de psicopatologia, por isolamento e falta de apoios externos, cuidadores completamente em exaustão/burnout, e tantas outras condições adversas. E sobretudo sente-se em tantos casos uma falta de afetos, de respeito e de dignidade, de humanidade pelas pessoas idosas (que não raras vezes contribuíram significativamente para que as novas gerações pudessem ter um determinado nível de vida/posição social)! Resumindo, relações humanas tão empobrecidas!
Durante a faculdade fui-me interrogando sobre tantas destas questões e existências, e tomei a decisão de tentar fazer o que estava ao meu alcance para tentar ajudar estas pessoas, estas famílias, os profissionais. Abracei esta causa! Tive o privilégio de poder aprender e colaborar com Professores fantásticos, nomeadamente a Prof. Margarida Pedroso Lima (UC) e o Prof. José Ferreira-Alves (UM), que me ajudaram a aprofundar o tema, e assim comecei numa demanda país fora a tentar sensibilizar a população em geral, instituições, profissionais, etc. para a existência deste fenómeno e de algumas medidas preventivas a tomar.
Mais de 10 anos passaram todavia, e após dezenas de comunicações e umas quantas intervenções e formações, é com muita tristeza que continuo a sentir que praticamente tudo está por fazer… Sim! Sem desprimor, claro, por algumas investigações académicas têm sido realizadas, existindo até atualmente livros em português e sobre a realidade dos Maus-Tratos a pessoas idosas em Portugal. Mas em termos de políticas sociais e de sociedade, e mesmo de esclarecimentos sobre mecanismos mais estruturados de intervenção e de prevenção nos diversos contextos, sinto-me como quando comecei! A desbravar terreno todos os dias!
Tenho a certeza que ao longo deste caminho devo ter conseguido tocar na consciência e no coração de muitas pessoas: fica-me a esperança de que cada um, no seu cantinho, esteja a fazer o que pode para tornar a nossa sociedade mais amiga das pessoas idosas (onde muito em breve todos nós nos incluiremos)!
Emília Vergueiro
(15/06/2019)
Bibliografia:
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Decalmer, P. & Glendenning, F. (Eds.). (1997). The mistreatment of the elderly people. London: Sage Publications.
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National Center on Elder Abuse at the American Public Human Services Association (1998). The national elder abuse incidence study.
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Paulino, M. & Costa, D. (2019). Maus-tratos a Pessoas Idosas. Lisboa: Pactor Editora.
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Perel-Levin, S. (2008). Discussing Screening for Elder Abuse at Primary Health Care Level. Geneve: OMS.
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Vergueiro, E. (2009). O ageism e os maus-tratos contra as pessoas idosas. Coimbra: FPCEUC
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World Health Organization (2002). Abuse of the elderly.
Ano Novo, Vida Nova e a Necessidade de Planear a Mudança
No final de cada ano, muitos de nós fazemos um balanço de todas as conquistas, desafios, problemas e dificuldades vividas durante esse mesmo ano. Recordamos os desejos que havíamos pedido ao som das badaladas da meia-noite, as metas que tínhamos traçado, e muitas vezes fica a sensação de que não concretizamos quase nada daquilo que queríamos verdadeiramente. Deixa-mo-nos preencher pelas tarefas urgentes do quotidiano pessoal, profissional e doméstico, e esquecemos de deixar um lugarzinho para as mudanças que tanto desejávamos operar… E continuamente nos questionamos: “Será que fiz tudo o que podia fazer para realizar o que pretendia? Não poderia ter dado mais de mim? O que é que faltou? Porque é que não consegui, se era algo que eu queria tanto? Foi mesmo falta de tempo?”
A resposta muitas vezes está num só conceito: PLANEAR!
Sim, planear!
Sim, planear dá algum trabalho, obriga à reflexão, exige um bocadinho da nossa atenção, das nossas energias e do nosso tempo! Todavia, sem fazer um planeamento concreto, sem prepararmos o caminho da mudança, simplesmente muito dificilmente esta irá acontecer!
Existem muitos esquemas e maneiras de a pessoa se organizar e de traçar um plano para mudar algo, da mais simples tabelinha às análises mais elaboradas como as SWOT! O mais importante é passar as ideias para o papel, é materializar esse desejo com um plano, pois isso torna-o desde logo mais concreto, mais palpável, mais passível de se concretizar!
No que concerne aos desejos de Ano Novo, pode começar por algo simples:
1 – Listar aquilo que o incomoda e que gostaria de alcançar/mudar (ex: Sinto falta de estar mais tempo com os meus familiares);
2 –Definir Objetivos Gerais (ex: Passar mais tempo com a minha família);
3 – Como o objetivo geral é mais vago, há que especificar dentro deste, definindo Objetivos Específicos (ex: Promover passeios em família);
4 – Definir Tarefas que permitam operacionalizar os objetivos traçados (ex: Vou convidar os meus familiares – esposa, filhos, pais e sogros – para fazermos 4 passeios este ano, e vamos decidir em conjunto os locais onde poderemos ir);
5 – Calendarizar – quando vou por em prática as tarefas definidas (ex: No último domingo dos meses de Março, Junho, Setembro e Dezembro vamos passear).
Depois, é só colocar em prática o planeado, procurando não fugir ao timing definido (ainda que deva haver a flexibilidade necessária para que não se cancele/desista da meta definida).
Não esquecer que uma boa definição de objetivos é fundamental, mas que estes devem, de facto, ser ajustados à nossa realidade/circunstâncias, ou seja, têm de ser atingíveis e ir de encontro a expectativas realistas e alcançáveis (caso contrário, entra a frustração, a tristeza, e a vontade de desistir, o sentimento de fracasso)! Afinal, de que serve querer ir a Marte, se ainda não é humanamente possível ???
Se queremos mudar/alcançar algo verdadeiramente, façamos este exercício: Parar, Refletir e Planear, para depois Concretizar!
Preparado para começar a jornada?
Votos de um Excelente 2019 … e seja Feliz!
Emília Vergueiro
(02/01/2019)
PS – E não esquecer que para mudar algum hábito são necessários mais de 21 dias consecutivos a praticá-lo para que entre na rotina 😉